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terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Férias em Minas Gerais


Ter pai nascido no interior de São Paulo e mãe nascida no interior de Minas Gerais me dava à possibilidade de diversificar o lugar onde passaria às férias. Com essa vantagem, há uns 600 Km de distância, numa cidadezinha de Minas Gerais, estava eu, a procura dos companheiros de pesca. Já contava com uns 12 anos de idade, e não conseguia encontrar colegas da mesma faixa etária que gostassem tanto de pescar.



Na falta dos coleguinhas, o jeito era sair com o avô materno, tios e tias fanáticos em pescaria. Não era fácil convencer alguém para me levar junto a uma dessas empreitadas.

Os adultos sempre justificavam me deixar de lado com o argumento de ser muito perigoso andar no meio do mato em busca de lagos com peixes. Se fazia muito difícil encontrar alguém disposto a me levar, mas a tia Ana e o tio Nino, sabedores da minha incontrolável vontade de pescar, sempre me levavam a tiracolo. Foi numa dessas caminhadas com eles que tive o meu primeiro contato com um molinete. Era da marca Paoli, a minha tia insistia para eu tentar arremessá-lo. Apesar da vontade de aprender eu achava aquilo difícil, e preferia continuar pescando com o caniço de mão mesmo.



Mas, ao ver os resultados obtidos com o molinete, percebi a necessidade de me aperfeiçoar rápido para utilizar àquele instrumento. Até então, as idas junto aos rios e lagos se dava durante o dia, mas numa oportunidade o tio Nino juntamente com outros tios combinaram uma pescada à noite.



Parece bobagem, mas ouvia muitos contos envolvendo assombrações dos moradores locais. Ora, um falava ter visto um lobisomem, mal terminava a estória e outro afirmava ter visto uma mula sem cabeça. Depois tinha àquele que contava o caso da Freira que circulava a partir de certo horário na praça da cidade.

Longe do interior, já na capital de São Paulo, escutava na escola sobre o fantasma de uma menina loira, morta e nua com algodões deitada numa bacia de banho. Na minha cabeça existiam vários relatos sobrenaturais armazenados patrocinados por estórias contadas com tanta crença e convicção, que ficava difícil descartá-las.



Certamente, tem quem bata a mão no peito e diga alto e em bom som que não acredita nessas coisas, e geralmente faz isso quando está na presença de outras pessoas, preferencialmente em lugar habitado e iluminado. Confesso acreditar na existência de fenômenos sobrenaturais e por isso respeito àqueles que já viveram tais experiências. A realidade hoje é outra e a vida adulta nos faz ficar preocupados com os vivos desse mundo, mas quando menino, pesava à lavagem cerebral feita pelo monte de estórias envolvendo assombrações assopradas nos meus ouvidos.

Com  06 (seis) tios, incluindo o Nino, fui convidado para  tão esperada pescaria noturna.



A mata era fechada em alguns pontos, a nossa volta existiam algumas lagoas e um pequeno riacho. Optei pela água corrente, era lua cheia o que possibilitava a minha movimentação sem a necessidade de lanterna. Tudo ia bem, até ouvir um pequeno barulho no meio do capim que já se fazia alto. Olho de um lado a outro e não visualizo nada, apenas o barulho no meio do mato. Para ajudar, o peixe dá sinal de vida e de tanto medo erro à fisgada; isco o anzol e o lanço novamente na água, desta vez havia pegado um enrosco, o barulho se intensifica para o meu lado, não pensei duas vezes e saí em disparada à procura de um dos tios. Os chamo pelo nome e ninguém responde, olho para lua, lembro daquelas estórias, fico intrigado com o barulho, mas me acalmo ao ver um vulto, me aproximo aliviado, mas me surpreendo ao visualizar  apenas  um tronco de árvore seca. Batimentos cardíacos acelerados e o medo dominando a alma e os contos sobrenaturais ganhando força na minha imaginação, até que ouço algumas vozes, e lá estavam os tios se aproximando para o meu alívio.

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